É certo que o Brasil definiu
sua nova política de Educação Especial na perspectiva inclusiva, sendo este um
fato promissor nas práticas sociais. Entretanto, muitas questões e desafios no
âmbito escolar continuam em aberto, sobretudo algumas bases conceituais que necessitam
serem discutidas e revistas. No caso específico das pessoas com surdez, por
exemplo, o desenvolvimento do potencial individual e coletivo dessa área tem
sido prejudicado por serem relegados a um segundo plano. Por trás desse fato,
existe um embate histórico entre oralistas e gestualistas, cujas visões
equivocadas mascaram a realidade. Vejamos como isto ocorre.
O Oralismo pressupõe que a pessoa
com surdez é um ouvinte com deformidade, daí proíbe o uso de sinais. Seu
objetivo é realizar a integração dessas pessoas a modalidade oral do país, por
isso propõe como única possibilidade linguística que sejam educadas na própria
língua da comunidade ouvinte, a fim de que possam se comunicar através da voz
ou da leitura labial na escola ou no meio social. Por outro lado, o Gestualismo,
alegando a questão da alteridade e da falta de produção cultural da comunidade
surda dentro da escola, enfatiza a identidade, a cultura e a comunidade surda. Propõe
que a criança com surdez precisa aprender a ser uma pessoa surda, ter referências de adultos surdos e conviver numa comunidade surda para
formar sua identidade no grupo social onde está inserida. Propõe também uma
escola exclusiva para pessoas com surdez nos anos iniciais.
Como se vê, ambas correntes caminham na
contramão da perspectiva inclusiva. Em princípio, a pessoa com surdez não pode
ser vista como deficiente porque, na verdade, tem apenas uma perda sensorial
auditiva. Ou seja, sua limitação para essa função perceptiva não neutraliza seu
potencial biológico, a capacidade mental e os outros processos perceptivos, que
a capacita como um ser de consciência, pensamento e linguagem. Depois, as
pessoas com surdez convivem com ouvintes desde o seu nascimento, sejam membros da
própria família ou da comunidade em seu entorno. Esses equívocos tem contribuído negativamente
em três aspectos: a) separa as pessoas com surdez dos ouvintes; b) negligencia o fator desenvolvimento; c) foca a atenção dos professores e da escola apenas no
problema de língua em si. Entretanto, o problema central do fracasso escolar não
está nessa ou naquela língua, mas também na qualidade e na eficiência das
práticas pedagógicas.
Ao romper com a referida
dicotomia e numa perspectiva pós-moderna, os mesmos autores propõem ressignificar
a educação das pessoas com surdez através da abordagem bilíngue. Para tanto, evocam
a obrigatoriedade do Decreto 5.626, de 05.12.2005, que determina na escola o ensino simultâneo da LIBRAS e da Língua Portuguesa, preferencialmente na modalidade
escrita, como línguas de instrução. Como deixa bem claro Damázio; Ferreira (2010,
p.48):
Nossa
intenção é interpretar a pessoa com surdez, à luz do pensamento pós-moderno,
como ser humano descentrado, por acreditar no corpo biológico, não em sua parte
com a deficiência, mas nas outras, que dão à pessoa potencialidade; [...] Daí,
temos certeza de que os processos perceptivos, linguísticos e cognitivos das
pessoas com surdez poderão ser estimulados e desenvolvidos, tornando-as sujeitos
capazes, produtivos e constituídos de várias linguagens, com potencialidade para
adquirir e desenvolver não somente os processos visuais-gestuais, mas também
ler e escrever as línguas em seus entornos e, se desejar, também falar.
No que se refere ao AEE PS (atendimento
educacional especializado para pessoas com surdez) propõe adotar uma simbiose
entre a Pedagogia Contextual Relacional, que se preocupa em desenvolver o ser
humano em contextos significativos; e a metodologia vivencial, que leva o aluno
a aprender a aprender.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradecemos o seu comentário aqui !