domingo, 20 de abril de 2014

Diferenciando SURDOCEGUEIRA de DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA



De acordo com Maia (2011): “A surdocegueira é uma terminologia adotada mundialmente para se referir a pessoas que tem perdas visuais e auditivas concomitantes em graus diferentes”. 

A origem da surdocegueira também pode ser congênita (sequelas da síndrome de rubéola) ou adquirida (Ex.: Síndrome de Usher). 


A Surdocegueira pode se originar de três grandes grupos:



  • Pessoas nascidas com audição e visão normal e que adquirem perdas totais ou parciais de ambos sentidos;
  • Pessoas com perda auditiva ou surdas congênitas com deficiência visual adquirida;
  • Pessoas com perda visual ou cegas congênitas com deficiência auditiva adquirida.


DIFERENTES GRAUS DE SURDOCEGUEIRA
Surdocego Total
Ausência total de visão e audição.
Surdocego com surdez profunda e resíduo visual
Ausência de percepção da fala (mesmo com aparelho de amplificação sonora individual), com resíduo visual que permite orientar-se pela luz e ter mo bilidade; e, com apoio de alto contraste, é possível ter percepção de objetos, pessoas e escrita ou símbolos.
Surdocego com surdez moderada e resíduo visual
Dificuldade para compreender a fala em voz normal e sua percepção visual à luz permite mobilidade e, com apoio de alto contraste, é possível ter percepção de objetos, pessoas e escrita ou símbolos.
Surdocego com surdez moderada ou leve, com cegueira
Dificuldade auditiva para compreender a fala em voz normal ou baixa, sendo necessário falar mais próximo ao ouvido com tom mais alto (fala ampliada); e sem percepção de luminosidade ou vulto (total ausência de visão). 
Surdocego com perdas leves (auditivas e visuais)
Dificuldade para compreender a fala em voz baixa e seu resíduo visual possibilita que defina e perceba volumes, cores e leitura em tinta ampliada.



De acordo com a Lei 7.853, de 24 de Outubro de 1989, a Deficiência Múltipla (DMu) é a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (Ex.: Deficiência intelectual, visual, auditiva e física), com comprometimentos que acarretam consequências no seu desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa. 

Conforme explica Orelove e Sobsey (2000), as pessoas com deficiência múltipla são indivíduos com comprometimentos acentuados no domínio cognitivo, associados a comprometimentos no domínio motor ou no domínio sensorial (visão ou audição) e que requerem apoio permanente, podendo ainda necessitar de cuidados de saúde específicos.  

A etiologia da DMu pode ser congênita ou adquirida, conforme o quadro abaixo:


PRÉ-NATAIS
Eritoblasstose fetal (incompatibilidade RH), microcefalia, citomegalovírus, herpes, sífilis, AIDS, toxoplasmose, drogas, álcool, rubéola congênita. Síndromes como Charge, Lennox-Gaustaut, entre outras.

PERI-NATAIS

Prematuridade, falta de oxigênio, medicação ototóxica, icterícia.

PÓS-NATAIS
Efeitos colaterais de tratamentos como: oxigenoterapia, antibioticoterapia, acidadentes, sarampo, caxumba, meningite, diabetes. Aparecimento tardio de características de síndromes, como distúrbios visuais de Wolfram, Usher e Alport (Retinose Pigmentar). Podem ser acrescentadas situações ambientais causadoras de múltipla deficiência, como acidentes e traumatismo craneano, irradiações, tumores e outras.

Na América Latina e do Norte, Europa, Ásia e Oceania a Deficiência Múltipla só é considerada se a Deficiência Intelectual fizer parte das deficiências. Entretanto, o Brasil reconhece a existência de quatro grandes grupos como sendo Deficiência Múltipla, os quais estão associados as seguintes áreas:



FÍSICA E PSÍQUICA
- Deficiência física associada à Deficiência Intelectual;
- Deficiência física associada a Transtornos Globais do Desenvolvimento


SENSORIAL E PSÍQUICA

- Deficiência Auditiva/Surdez associada à Deficiência Intelectual;
- Deficiência Visual associada a Deficiência Intelectual;
- Deficiência Auditiva/Surdez associada a Transtornos Globais do Desenvolvimento;
- Deficiência Visual associada a Transtornos Globais do Desenvolvimento.


SENSORIAL E FÍSICA
- Deficiência Auditiva/Surdez associada à Deficiência Física;
- Deficiência Auditiva/Surdez associada à Paralisia Cerebral;
- Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Deficiência Física;
- Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Paralisia Cerebral.


FÍSICA, PSÍQUICA E SENSORIAL
- Deficiência física associada à Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) e Deficiência Intelectual;
- Deficiência física associada à Deficiência Auditiva/Surdez e a Deficiência Intelectual;
- Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Paralisia Cerebral e Deficiência Intelectual.


Diferença fundamental entre as duas deficiências

A pessoa que nasce ou fica surdocega não recebe informações sobre o que está a sua volta de maneira fidedigna. Ela precisa de alguém para realizar a mediação da comunicação e, desse modo, ser capaz de perceber, interpretar e conhecer o que lhes cerca. Seu conhecimento de mundo ocorre através dos canais sensórias proximais (Ex.: tato, olfato, paladar, cinestésico, proprioceptivo e vestibular). Já a pessoa com Deficiência Múltipla, embora não garanta que todas as informações lhes chegue de forma fidedigna, sempre terá o apoio de um dos canais mesmo distantes (visão e audição), os quais são responsáveis pela maioria do conhecimento que vamos adquirindo ao longo da vida.


Necessidades básicas em ambos casos

Para que a inclusão ocorra de fato, faz-se necessário que os atores envolvidos (gestores, professores, alunos, comunidade escolar, família e outros profissionais) trabalhem sintonizados e promovam atividades e situações que estimulem o desenvolvimento das habilidades do(a) estudante, principalmente estabelecendo a troca e a reciprocidade através de uma comunicação mútua, onde o emissor e o receptor se façam entender e ser entendido. Para isto ocorrer “[...] deve-se disponibilizar recursos para favorecer a aquisição da linguagem estruturada no registro simbólico, tanto verbal quanto em outros registros, como o gestual por exemplo” (MEC, 2010, p.12).  

Estratégia de comunicação para pessoas com Surdocegueira e DMU 


Rowland e Schweigert (2005) sugerem o uso de símbolos concretos. Estes devem ser construidos de acordo com as especificidades de cada indivíduo a fim de estabelecer uma comunicação com o usuário, que deve ter a intenção e entender os elementos da comunicação. Além disso é preciso desenvolver atividades de maneira multissensorial que proporcionem uma aprendizagem significativa, a fim de garantir o aproveitamento de todos os sentidos para que a pessoa se torne o mais autônoma possível.  

Referências:
  1. BOSCO, I.C.M.G.; MESQUITA, S.R.S.H.; MAIA, S.R. Coletânea: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar – Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla. UFC-MEC/2010;
  2. IKONOMIDIS, V. M. Deficiência Múltipla Sensorial. MEC-UFC, 2014;
  3. MAIA, S. R. AEE – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO. Aspectos Importantes para saber sobre Surdocegueira e Deficiência Múltipla. São Paulo, 2011;
  4. ROWLAND, C.; SCHWEIGERT. P. Soluções Tangíveis para Indivíduos com Deficiência Múltipla ou com Surdocegueira. MEC-UFC, 2005.