De acordo com Maia (2011): “A surdocegueira é uma
terminologia adotada mundialmente para se referir a pessoas que tem perdas
visuais e auditivas concomitantes em graus diferentes”.
A origem da surdocegueira também pode ser congênita (sequelas da síndrome de rubéola) ou adquirida (Ex.: Síndrome de Usher).
A origem da surdocegueira também pode ser congênita (sequelas da síndrome de rubéola) ou adquirida (Ex.: Síndrome de Usher).
A Surdocegueira pode se originar de três grandes grupos:
- Pessoas nascidas com audição e visão normal e que adquirem perdas totais ou parciais de ambos sentidos;
- Pessoas com perda auditiva ou surdas congênitas com deficiência visual adquirida;
- Pessoas com perda visual ou cegas congênitas com deficiência auditiva adquirida.
DIFERENTES GRAUS DE
SURDOCEGUEIRA
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Surdocego
Total
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Ausência
total de visão e audição.
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Surdocego
com surdez profunda e resíduo visual
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Ausência
de percepção da fala (mesmo com aparelho de amplificação sonora individual),
com resíduo visual que permite orientar-se pela luz e ter mo bilidade; e, com
apoio de alto contraste, é possível ter percepção de objetos, pessoas e
escrita ou símbolos.
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Surdocego
com surdez moderada e resíduo visual
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Dificuldade
para compreender a fala em voz normal e sua percepção visual à luz permite
mobilidade e, com apoio de alto contraste, é possível ter percepção de objetos,
pessoas e escrita ou símbolos.
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Surdocego
com surdez moderada ou leve, com cegueira
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Dificuldade
auditiva para compreender a fala em voz normal ou baixa, sendo necessário
falar mais próximo ao ouvido com tom mais alto (fala ampliada); e sem
percepção de luminosidade ou vulto (total ausência de visão).
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Surdocego
com perdas leves (auditivas e visuais)
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Dificuldade
para compreender a fala em voz baixa e seu resíduo visual possibilita que
defina e perceba volumes, cores e leitura em tinta ampliada.
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De acordo com a Lei 7.853, de 24 de Outubro de 1989, a Deficiência Múltipla (DMu) é a associação, no mesmo
indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (Ex.: Deficiência intelectual, visual,
auditiva e física), com comprometimentos que acarretam consequências no seu
desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa.
Conforme explica Orelove e Sobsey (2000), as pessoas com
deficiência múltipla são indivíduos com comprometimentos acentuados no domínio
cognitivo, associados a comprometimentos no domínio motor ou no domínio sensorial
(visão ou audição) e que requerem apoio permanente, podendo ainda necessitar de
cuidados de saúde específicos.
A etiologia da DMu pode ser congênita ou
adquirida, conforme o quadro abaixo:
PRÉ-NATAIS
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Eritoblasstose
fetal (incompatibilidade RH), microcefalia, citomegalovírus, herpes, sífilis,
AIDS, toxoplasmose, drogas, álcool, rubéola congênita. Síndromes como Charge,
Lennox-Gaustaut, entre outras.
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PERI-NATAIS
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Prematuridade, falta de oxigênio,
medicação ototóxica, icterícia.
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PÓS-NATAIS
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Efeitos
colaterais de tratamentos como: oxigenoterapia, antibioticoterapia,
acidadentes, sarampo, caxumba, meningite, diabetes. Aparecimento tardio de
características de síndromes, como distúrbios visuais de Wolfram, Usher e
Alport (Retinose Pigmentar). Podem ser acrescentadas situações ambientais
causadoras de múltipla deficiência, como acidentes e traumatismo craneano,
irradiações, tumores e outras.
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Na América Latina e do Norte, Europa, Ásia e Oceania a
Deficiência Múltipla só é considerada se a Deficiência Intelectual fizer parte
das deficiências. Entretanto, o Brasil reconhece a existência de quatro grandes
grupos como sendo Deficiência Múltipla, os quais estão associados as seguintes
áreas:
FÍSICA E PSÍQUICA
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-
Deficiência física associada à Deficiência Intelectual;
-
Deficiência física associada a Transtornos Globais do Desenvolvimento
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SENSORIAL E PSÍQUICA
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-
Deficiência Auditiva/Surdez associada à Deficiência Intelectual;
-
Deficiência Visual associada a Deficiência Intelectual;
-
Deficiência Auditiva/Surdez associada a Transtornos Globais do
Desenvolvimento;
-
Deficiência Visual associada a Transtornos Globais do Desenvolvimento.
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SENSORIAL E FÍSICA
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-
Deficiência Auditiva/Surdez associada à Deficiência Física;
-
Deficiência Auditiva/Surdez associada à Paralisia Cerebral;
-
Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Deficiência Física;
-
Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Paralisia Cerebral.
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FÍSICA, PSÍQUICA E
SENSORIAL
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-
Deficiência física associada à Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) e
Deficiência Intelectual;
-
Deficiência física associada à Deficiência Auditiva/Surdez e a Deficiência
Intelectual;
-
Deficiência Visual (cegueira ou baixa visão) associada à Paralisia Cerebral e
Deficiência Intelectual.
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Diferença fundamental entre as duas deficiências
A pessoa que nasce ou fica surdocega não recebe
informações sobre o que está a sua volta de maneira fidedigna. Ela precisa de
alguém para realizar a mediação da comunicação e, desse modo, ser capaz de
perceber, interpretar e conhecer o que lhes cerca. Seu conhecimento de mundo
ocorre através dos canais sensórias proximais (Ex.: tato, olfato, paladar,
cinestésico, proprioceptivo e vestibular). Já a pessoa com Deficiência
Múltipla, embora não garanta que todas as informações lhes chegue de forma
fidedigna, sempre terá o apoio de um dos canais mesmo distantes (visão e
audição), os quais são responsáveis pela maioria do conhecimento que vamos
adquirindo ao longo da vida.
Necessidades básicas em ambos casos
Para que a inclusão ocorra de fato, faz-se necessário que os atores
envolvidos (gestores, professores, alunos, comunidade escolar, família e outros
profissionais) trabalhem sintonizados e promovam atividades e situações que
estimulem o desenvolvimento das habilidades do(a) estudante, principalmente estabelecendo
a troca e a reciprocidade através de uma comunicação mútua, onde o emissor e o
receptor se façam entender e ser entendido. Para isto ocorrer “[...] deve-se disponibilizar
recursos para favorecer a aquisição da linguagem estruturada no registro
simbólico, tanto verbal quanto em outros registros, como o gestual por exemplo”
(MEC, 2010, p.12).
Estratégia de comunicação para pessoas com Surdocegueira e DMU
Estratégia de comunicação para pessoas com Surdocegueira e DMU
Rowland e Schweigert (2005) sugerem o uso de símbolos concretos. Estes devem ser construidos de acordo com as especificidades de cada indivíduo a fim de estabelecer uma comunicação com o usuário, que deve ter a intenção e entender os elementos da comunicação. Além disso é preciso desenvolver atividades de maneira multissensorial que proporcionem uma aprendizagem significativa, a fim de garantir o aproveitamento de todos os sentidos para que a pessoa se torne o mais autônoma possível.
Referências:- BOSCO, I.C.M.G.; MESQUITA, S.R.S.H.; MAIA, S.R. Coletânea: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar – Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla. UFC-MEC/2010;
- IKONOMIDIS, V. M. Deficiência Múltipla Sensorial. MEC-UFC, 2014;
- MAIA, S. R. AEE – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO. Aspectos Importantes para saber sobre Surdocegueira e Deficiência Múltipla. São Paulo, 2011;
- ROWLAND, C.; SCHWEIGERT. P. Soluções Tangíveis para Indivíduos com Deficiência Múltipla ou com Surdocegueira. MEC-UFC, 2005.